2.9.05

alentejo


Enquanto o mundo adormecia, recordei o tempo em que sonhava recordar um passado. Recordei o tempo em que desejava um futuro que talvez nunca chegasse. Hoje, enquanto a noite se debruçava sobre o horizonte de cães vadios e chocalhos de ovelhas de planícies, hoje fiz esse futuro tornar-se passado. Os fantasmas com que sonhei um dia foram reais, e enquanto o foram deixei que povoassem a minha casa, o meu idílio. Mas já não há mais razão para eles existirem, porque o futuro nunca é bem o que prevemos que seja, e esses fantasmas ganharam uma vida diferente da que eu lhes quis dar. Por isso, a partir de hoje não serão mais fantasmas mas existências reais. Hoje deixarão de povoar o meu idílio, mas as suas existências serão convidadas a voltar quantas vezes quiserem à minha casa.
Desde que consiga sempre ver o mundo adormecer enquanto a noite se soerguer entre cães vadios e chocalhos de ovelhas de planícies.