13.4.07

visões

«Nunca sei o que aconteceu ao passado. Não gosto de pensar no futuro. E o dia de hoje vai passando.»
Encostou-se ao banco traseiro do carro. Pela janela, a direita, os semáforos sucediam-se. Os prédios, voltados a sul. Uma bomba. Os olhos iam-se embaciando, de secos. Como mãos gretadas do mau tempo. Olhos secos de uma má aventura. Ia-se deixando conduzir. Lembrava-se vagamente de um momento, mas a memória difusa e as luzes da cidade iam-lhe adicionando camadas, acrescentos, perpectivas diferentes. A mesma acção elevada ao expoente máximo. O infinito num momento. Num ponto. Nele.
E o tempo foi passando, um tempo que não era dele, mas estava nele. Tal como o caminho que fôra traçado, mas não por ele.
Recostou-se. A luz foi-se difundindo, até à cegueira.