27.3.12

sala




Cada vez mais, os tempos atraiçoados fazem em mim o meu espaço cada vez mais meu. Esta terra, existir, neste espaço, nestas lâmpadas, cada vez mais meus. Caminho. Caminhos, eus. Os tempos, deixados, desleixados, abandonados. A almofada que foi, que já não é. Sei que existi nessa almofada, mas hoje, não sou eu. Não existo mais ali. Comigo, o que deixou de ser, o cessar abrupto dos dias e das coisas. Nas margens dos caminhos, pairam os porquês. Afasto-os com a mesma almofada. Que foi, que já não é. Eus nos cantos, nos tapetes, no regador. Dos frisos dos tectos, pendem os porquês. Afasto-os com as minhas pálpebras fechadas. Não olho, não vejo, não conheço. E o que oiço, nos líquidos destilados das garrafas, é um fantasma. Já não sou eu. Não lhe respondo. Tempo longo, atraiçoado e abandonado, preso na curva do caminho. Desse que não sei. Mas que no peso do tempo, parece meu.