8.1.13

fuga




Era véspera de ano novo.
Havia família. Haviam amigos de família. Estavas numa casa que reconhecias, mas que vendo agora, não te era nem vagamente familiar. Tinhas estado na praia, sol, areia cavada pelas ondas  raivosas que volta e meia quase te submergiam. A espuma das ondas. Branca.


Sol, luminoso.


Tu vestias-te, como quem espera enfadonhamente por uma novidade. Talvez como costumas encarar as passagens de ano.

Havia pessoas a chegar a casa. Pessoas. Pessoas tuas.
Há um barulho ensurdecedor. Vais até à janela, assustas-te com um bando de pombos a voar à tua frente.
Há um barulho ensurdecedor.
Finalmente apercebes-te. Na paisagem habitual da tua janela, há um avião que se despenha na estação de comboio.

Pessoas, pessoas em todo o lado. Encostadas às paredes dos prédios, feridas.
Mesmo sabendo que tudo aquilo fora surreal, nada de grave, afinal nem havia nenhum comboio por ali na altura, passou um rés-vés, que nunca um avião daquele tamanho cairia assim em cima da linha do comboio, que conheces demasiado bem aquela estação, mas não aquela casa.

Mesmo assim, foges. Corres, corres por entre os feridos e pelas ruas que afinal reconheces como a tua casa. Corres com todas as tuas forças, como se não fosse preciso nenhum esforço. Corres, como se fosse o mais natural.




Eu sei para onde foges.







Acordo.