31.3.05

quando for grande quero ser um caracol.

Se algum dia houvesse em que pudesse trocar de ser, trocaria o meu ser por um ser caracol. É que assim deixaria a minha gosma por onde quer que tivesse passado, poderia elasticamente transpor obstáculos inimagináveis, até talvez andar (deslizar) de cabeça para baixo. Sempre que não me sentisse bem teria a minha concha, à justa para me encolher e esperar que a adversidade passasse. Teria uma rádula (nunca me imaginei a raspar comida). Sobretudo, teria apenas uns gânglios nervosos que me permitiriam (sobre)viver no mundo caracolídeo, sem nunca necessitar de ser informada que hoje esteve sol e muito calor. Até lá, terei que viver com este cérebro imbricado que Deus me deu, terei que pensar, questionar, mostrar inteligibilidade e trabalho feito.
Terei que manipular, estudar, ver precisamente, ouvir precisamente.
Terei que ir fazendo marcas, onde as quiser deixar.
Terei que sentir.
Terei que ver para além do que sinto, sentir para além do que vejo e terei para sempre de me arrepender de não o ter sentido. E até de o ter sentido.
Terei que me lembrar.
Porém não serei nunca comida por nenhum ser gigante com penas, bicos e garras, nem serei esmagada no quintal da minha avó com o seu pé para ser ofertada como iguaria às galinhas (que há muito pereceram).
Mas também nunca tive a ambição de ser uma caracoleta grande.

2 Comments:

Anonymous Anónimo retorquiu porém...

lentamente.. o teu ranho de sentidos toca-me. (posso dizer isto?)
mas gostei mesmo de.. perceber.
s.

1/4/05 12:09 da manhã  
Blogger Unknown retorquiu porém...

Parabéns pelo excelente blog... sou amigo da sofia...

1/4/05 2:21 da tarde  

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