6.4.09

o que não existe|conto três

Será que existe, a acção dessentir? Como é que eu dessinto? Alguma vez dessentiram o sono, a alegria?
Será possível dessentir... e todavia, hoje sei com clara certeza, dessenti-te.
Sabes bem como vivias sobre a minha vida, pairando como uma sombra, sombra que eu tanto adorava e que me protegia de tantos outros sentires. Tanto me habituei a sentir a tua sombra que me esqueci que existias. E, depois, quando um dia te tornaste real, a propósito de uma qualquer insónia alcoólica, percebi que não eras tu que sentia meu, mas a tua sombra. Desiludi-me. As sombras são perfeitas.
Tu, não foste.
Aprendi a dessentir. Por vezes, dessenti-me, dessenti até o mundo.
E, por fim, dessenti-me de ti.