18.11.09

mortos-vivos




Falamos como se já cá não estivessem. Não estão de facto, deambulam por um mundo desconhecido para nós, os deste lado da razão. Estão bem presentes, são, existem.

Ainda existem.

Em parte.


Porque há uma parte, qualquer, maior ou menor que o todo que ainda existe, que já partiu. Mudou-se de mundo, encontrou um lugar à sua medida. Reencontrou-se com o seu passado. Fugiram, pelo canto do olho, para outro lugar qualquer da imaginação. E por muito que quisessem continuar a existir mesmo ao nosso lado, aquele mundo irreal a espraiava-se à sua volta, numa sedução irresistível.


Acabamos a dizer coisas desfazadas do tempo. Contamos como era no passado, o que diziam, como faziam, do que gostavam e o que os fazia irritar.

Acabamos, no fundo, a recordá-los como mortos, mesmo que ainda vivam ao nosso lado.