21.5.08

mirtilos

Conheci, há muito tempo, uma rapariga. Pessoa como qualquer uma, alegre, simpática, com as exaltações de todos os dias.
Deixei de a encontrar.
É que também ela tinha deixado de se encontrar. Vi-a, muito depois. Perdida dos dias, das exaltações, das expressões. Com o infinito preso nos olhos. Sobrevivendo na ausência de si. Os sorrisos vagos e levemente perdidos. Os ombros encurvados e o cabelo como se a vida tivesse, em vinte anos, passado - o grisalho de um peso maior que o mundo.
O peso do vazio, do infinito preso, do sorrir que teima em fugir, enganados num filme, num passeio, numa exposição.
Na rotina dos dias.
Confesso, tenho algum medo que ela seja eu.