21.9.09

statement

Aviso já aqui, com as devidas hipérboles e exageros.
Que ver um velho é das visões que mais me pode comover.
Não explico.
Se por há muito ter encontrado nos olhos das minhas avós um brilho baço de solidão mesmo quando todos estávamos juntos. Uma solidão velada e escondida entre as rugas e as cataratas. Um estar só de saber que já não se pertence a este mundo que as ultrapassou, um não se habituar a já não pertencer a ninguém como dantes, ainda que durante tantos anos pertençamos a alguém, quando estamos juntos, quando temos filhos, pais, irmãos.
E é esse olhar indefinido no meio da rua, de passos incertos e sacos nas mãos grossas que me tira a respiração, por vezes. Sim, o mau feitio e os defeitos não se vão embora com a idade. Não enchamos a vida de demasiado lirismo.
Mas é o arranjar-se para ir ter com as amigas ao café, o cheiro a laca desprendendo-se dos cabelos brancos, penteados e aprumados.
É uma réstia ainda de vida a debater-se quando encontram as nossas mãos, olhares, sorrisos.
Por isso é que ainda hoje dei por mim a olhar para as velhas que passavam na rua, a tentar descortinar se alguma delas era aquela que levei ao banco no outro dia (pois, são as dores que não deixam andar, não, não tenho meninos nenhuns, é este o banco?), do Senhor Antero que me ligou no Dia de Natal sem eu lhe ter enviado sequer um cartãozeco de Boas Festas (estou sim, é a senhorita? quando tiver noivo tem que mo vir apresentar), ou da avó Elisa que tem confiança suficiente para pegar na minha mão, mesmo não fazendo a menor ideia de que sou a sua "neta pequenina".
Não faço ideia de quando se comemora o "dia dos avós", mas pergunto-me como será sentir esse brilho baço.
Tudo isto a propósito de pensar que quanto mais velho, mais importante. E mais rico. Tanta bagagem de vida...

1 Comments:

Blogger nikita retorquiu porém...

Também sinto o mesmo. e por vezes custa ainda mais olhar a indiferença dos outros.

5/10/09 1:01 da tarde  

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