4.10.10












Sentei-me no banco de pedra e reparei. Lá mais à frente, junto à escarpa, uma rapariga sentada. Sinto que os nossos propósitos seriam os mesmos, mas com toda a certeza, por trajectos diferentes.
Aposto que a rapariga não pensava em nada. Parecia apenas contemplar etereamente o pôr do sol no mar. Revejo-a a observar a paisagem por pedaços.
O grande mar azul.
Ali, na ponta do sal, as ondas, baixas, prolongam-se por centenas e centenas de metros. Sincopadas, rítmicas, certeiras contra as escarpas.
Depois, os mosquitos.
Seguindo o vôo despropositado de um, acabou por perdê-lo numa pequena nuvem de mosquitos. Como quando três ou quatro se convergem, numa vertigem, formando um pequeno caos Um caos do tamanho de um mosquito.
As gaivotas.
Pressentindo o fim do dia, vão aparecendo junto à costa. Regressam, rasando o mar, a casa firme.
As nuvens de noroeste engrossam, obrigadas a contornar a serra.
O sol prolonga-se no seu regresso ao horizonte, como se quisesse manter um pouco mais a sua vigília. Mas afasta-se e o seu calor enfraquece.
As cores afundam-se com o sol. Regressam também elas ao seu interior, e o seu brilho desaparece. Tornam-se semelhantes, identicamente pardas.

Viro costas.

Ela fica, ainda, quem sabe na esperança de conseguir agarrar ainda uma última ponta desse dia.