20.1.05

dá a volta, se encontraste aquilo que não querias

Ser optimista hoje. Será assim tão estranho? Como é possivel ser-se por natureza uma pessoa optimista, pensar em lados positivos de coisas, se as coisas que nos povoam hoje são, dizem, negativas? Eu sei, há muita dor por aí, não sei como é que se vive com ela, apesar dela. Será que isso me impossibilita de sorrir um sorriso optimista quando dou por um bêbado a fazer toscamente os gestos de um pai-nosso cantado numa qualquer missa de domingo? Será que por ouvir histórias (não, relatos de vidas verdadeiras) de amigos que roubam, meninos que levam porrada na escola e que pedem dinheiro para os pais, amigos que morrem sem avisar, tudo isto de rajada, num só dia, em poucos minutos, será que por saber que tudo isto existe, por não o viver directamente, isso me dá (ou tira) o direito (ou a mania) de querer ver coisas boas, sentir tranquilidade, paz, serenidade, alegria? Será que sou estúpida? Que parvoíce, que arrojo, andar por aí a sorrir depois de saber de coisas destas, ou piores. Até parece inconveniente, logo agora que até me sinto mais ou menos...bem. Não quero de forma alguma negar o sofrimento, a tristeza dos outros. Quero, isso sim, pegar em tudo isso, remexer com o meu optimismo e com alguma sorte, devolver alguma motivação positiva. Porque se há coisa negativa, é a imobilidade da desolação. É ficar devastado, e não se conseguir sequer pensar em não o estar. O que está errado não é o que de mal nos acontece (embora também possamos dissertar sobre esse assunto um dia destes), é sim a não reacção. Deve ser aquilo a que chamam “dar a volta por cima”...