29.3.09

cubos de plasticina*




A verdade é que esta música absorve-me, é irresistível. Suga-me, e eu não consigo escapar-me a ela. Podia dar a volta ao mundo, e a música iria continuar em mim, ou eu nela. E eu nela. Até chegar e encontrar, ou até tropeçar no meu piano para a tocar. Para finalmente ela sair de mim? Para finalmente nos unirmos na mesma história? 
Esta música conta uma história, uma história dos anos 20. Filme mudo? Personagem lúgubre, solitária, percorrendo ruas desconfiadas de si. A vida desta personagem não tem história, não conhece ninguém mas já viu toda a gente. Quer conhecer alguém, distante, altivo. Esquiva-se, mas reaparece. Na música, joga-se o jogo do desconfia.


*a ouvir Gnossiènnes, Erik Satie.





25.3.09

twitter

Vou fazer a minha sessão de 20 minutos de fotossíntese diária ali ao jardim.
Até daqui a 20 minutos.

23.3.09

a palavra




Escrevi a palavra espirro e logo comecei  a fungar do nariz.

Escrevi a palavra preguiça e vi que ao lado dela morava a palavra espirro.

Escrevi a palavra porta e perguntei-me como é que as portas podem ser estúpidas.

Escrevi a palavra ovelha, e logo uma imensidão de planície escorreu da minha caneta, espraiando-se por toda a folha.


sete frases


Sete e sete são catorze, e mais sete vinte e um.

Sete é o número que eu escolho sempre que me perguntam por um número ao acaso.

Sete?, não seis são as cordas da guitarra.

Sete?, não muitas mais são as cordas do piano.

Sete os nomes das notas musicais, mas infinitos, os sons por elas criados.

Tenho sete namorados e não gosto de nenhum.

Sete frases, eu bem disse. Fim.


20.3.09

escrever escrever escrever escrever escrev




er escrever escrever escrever escrever escrever escrever escrever escrever escrever escrever escrever esc

rev
e
r


só falta começar a copiar para este caderno.
Frases absurdas a caminho.



11.3.09

arre|medos

Porquê estes arremedos repentinos de passados ao som dos primeiros acordes? Porquê estas ligações viscerais? Tão mais facil se a música não se ligasse a nada. Tão mais vazia de sentimento.

10.3.09

focagem




Miopia é ser incapaz de reconhecer a verdadeira forma de um ser, ficar-se pelo aspecto vago e disperso, ignorando no detalhe a miríade de imperfeições e defeitos. Demoramos sempre um pouco a habituar-nos aos óculos, à nova graduação. Pois assim também com pessoas que julgamos ter conhecido.




reunião





Sentada à mesa, à espera que alguém que nem conheço apareça, olho a janela de guilhotina.
Deve ter pelo menos mil anos, este prédio pombalino. Barulhos, ruídos, rangeres. Água, pingo. Parede, luz cinzenta. 

Gaivota. 

Grita, berra para si própria o descontentamento de mais uma tarde de chuva.


De uma beleza decadente, os prédios da Rua da Madalena.





1.3.09

o que não existe|conto 2







E então, todos os dias viajava, longe, até lá atrás da sua mente. Não que o quisesse, mas porque, não,
nada a sugava,
tudo à volta a empurrava. E essa pessoa. Estava ali, e sem querendo, desencaixava-se de coisas tão boas e bonitas e belas. E o simples. O que era simples morria mais um pouco. E os xilofones, e os relógios de cordas


tornavam-se

pesados e sombrios, desgostosos. Pensava sem saber:
Aquela moinha por ti.
De há tempos atrás. Atrás da sua
mente.