29.9.05

desejo (outra forma de)

Porque me mataste a ignorância.
Essa música que me tocaste, agora, é minha. Já não consigo desfazer-me dela, e não me importa que digas que é tua.
Faz-me chorar, e as lágrimas são só minhas. E a culpa é só tua.

E não quero saber, não ma tivesses entregue assim, displicentemente de mão beijada. Como se não soubesses o que esperar.
(espero-te).

28.9.05

desejo

É terem-se sentado à mesa apenas para almoçar. Como uma função que lhes tivesse sido destinada. Por tanto terem desejado falar, conversar, perguntar, acabaram por cair na rotina eterna do silêncio.
Acostumaram-se. Já não precisam sequer de sorrir, porque já não desejam sair de si para o outro.
Mas têm medo de acabarem as suas refeições sozinhos. A solidão que criaram é demasiado pesada para ser encarada.
Acostumaram-se. Só(s).
O desejo anulou o desejar.

parvoeira

Só porque hoje abri o frigorífico para jantar e descobri que me apetecia comer iscas. Onde é que já se viu.

Mas que raio.... ?!

27.9.05

3:00, outra vez

....Será?....

É inevitável, o tempo vai passar por mim como uma flecha. Sem demorar tempo algum. Parece que o oiço a chegar, como se ouvem os comboios nos carris muito antes de os vermos.
E se não fossem as doses industriais de músicas injectadas nos meus ouvidos, não teria resistido até às 3h, 4h ou 5h tantas vezes.
Tanto tempo, em tão pouco tempo.

26.9.05

mãos

Há quem repare em alguém pela cara, pelos olhos, pelo rabo, pelos dentes até. Mas são as mãos que mostram de que ser alguém é feito. Porque os actos passam por elas, depois de terem passado pela cabeça. Não, nem sequer precisam de passar pela cabeça. Mas mesmo assim as mãos mostram sempre quem se é e quem se quer ser.
E depois, são as mãos que me (tocam).

dead_lines

Parece que hoje me deu a espertina...
Sempre quero ver onde chegam as olheiras, amanhã.

24.9.05

para elisa

Por onde andas, agora que já desististe de andar? Em que encruzilhada do teu caminho azedaste tanto essa alma doce onde eu me encostava nos serões de Verão, porque estão tão fechadas essas mãos (sapudas, como dizias) que me deixavas remexer durante horas?
Em ti aprendi como me encostar a alguém para lhe demonstrar o apreço e simpatia (sem falar), as tuas mãos (sapudas) ensinaram-me a ver nas mãos dos outros o seu ser. Que mãos como as tuas seriam seriam mãos de trabalho e dedicação, que mãos como as minhas seriam mãos como as do meu avô, mãos belas, e de artista.

Ensinaste-me muito.

Porque em mais nenhum canto do mundo uma avó tem uma casa e uma casinha no quintal.
Em mais nenhum canto do mundo uma avó dorme num beliche desde que eu me lembro de ser gente e não bicho.

E ainda me ensinas.

22.9.05

lista de alarvidades


Comidas da avó
o bolo de côco (não é só da neta mais velha!)
o bolo de chocolate (não é só da neta do meio!)
os ovos mexidos (naquela frigideira imprestável, que jamais conheceu um detergente, religiosamente guardada num saco de plástico no armário de baixo da cozinha)
as batatas fritas (daquelas à rodelas, que mais ninguém faz porque agora vem tudo congelado, aos palitos)
os doces (de pêssegos do quintal, de morangos saloios, de ameixa com canela, marmelada, geleia)
o arroz doce (com ou sem ovos, dependendo dos presentes)
as filhós (as incontornáveis, e herdadas pela minha irmã)

Comidas da mãe
o gaspacho (raro, mas estupidamente bom)
os cozidos (só porque são dos almoços de domingo. E de inverno)
a tarte tatin (aquela que podia ser uma só para mim)
o bacalhau espiritual (que já não se usa nos fins de ano, porque já ninguém passa o ano em casa)
a mousse de chocolate (que também podia ser da tia, e de mais gente...)

Comidas da irmã
o tiramisú (outro que era uma travessa só para mim)

as pastas (com tudo e com todos, desde que seja fresca)

os tramezinni (como raio se escreve isto?)

Comidas de fora
as farinheiras (e morcelas de arroz, e paios, e chouriços, e linguiças, e farinheiras pretas, e tudo o que é tripa de bicho cheia de qualquer coisa...comestível)
o caril (do restaurante aqui de trás que já não existe há anos)
o semi-frio (idem)
os gelados (os de cascais porque sabem à matéria-prima, os de veneza porque, bem, são italianos autênticos)
as tostas (do guincho, por exemplo, mas normalmente em tudo o que é bar.Ah, as de veneza também)
o chocolate quente (de carcavelos)
os croissants de chocolate (primeiro os da estação, mais antigos, depois os inúmeros alarvados durante a faculdade)
os pastéis de nata (e demais bolos ali dos arcos)
as pizzas (da pizzaria que também já não existe, se bem que as de Lagoa também eram qualquer coisa)
a tarte de morango (de s. pedro de sintra)
os rojões (e papas de sarrabulho, e vinho verde do gerês)
a encharcada (lá da terra)
as migas de espargos (evento único)
...

Bolas, acabei de ver a minha vida em forma de comida.
Que alarvidade.

21.9.05

coisas disfuncionais

Como se essas poesias em forma de som (essas canções) chegassem a quem foram pensadas. Nem sequer chegam como gostaríamos a quem pensamos que podia ouvi-las em vez de nós próprios.
Acabamos por afundar essas músicas em nós.
Pois, por isso já desisti de fazer do piano a minha canção. Pois, afinal pode ser que algum dia alguém oiça das escadas.
Ou do elevador.
Seria música de elevador.
Mas assim, não é nada, porque ninguém jamais saberá que alguma vez aquela poesia existiu.
São reverberações disfuncionais da minha mente.

19.9.05

isto realmente...

Prezados leitores, se vós deliráveis com o excelente português deste blog...experimentem em inglês! Coisa nunca vista!!
Isto a internet arranja com cada coisa...
ora cliquem lá aqui para ver se isto não se torna num blog com muito mais qualidade!

o orgulho blogueiro*



Mas há assim tanta gente a ver isto? O que vale é que vêm todos ao engano...
* - Ou então... não.

17.9.05

é que até deves vir da pós...

Dois factos:
A informação assimétrica baralha sempre o esquema e consequentemente faz mover o mundo. Há sempre alguém que sabe qualquer coisa que o outro não sabe...
O tempo não é linear, mas curvo. Mais precisamente, é uma circunferência perfeita. Aquilo que hoje aconteceu há-de voltar a acontecer, e já aconteceu antes, quando esse ponto da circunferência passou por nós. Até ao momento em que deixarmos de fazer tangentes ao tempo e passarmos a fazer parte da sua circunferência intemporal.
É ou não é assim?

14.9.05

a meus olhos

É que se me perguntares o que vejo no meio do remoinho que sempre te acompanha e te enrola e submerge, eu direi que no fim de tudo isso vejo os teus pequenos olhos assustados.
Sei que tens medo de ti.
Do que possas querer fazer.

13.9.05

é já quase depois de amanhã

Deixei de ter tempo para prosas.
Para poesias nunca tive punho.
E descobri que acho que vou entrar em stress não tarda. Porém, durmo cada vez melhor. Moral da história, há que viver sob stress sob pena de não dormir a sono solto.
Esperam-se novos desenvolvimentos (leia-se posts) a qualquer instante inoportuno.

11.9.05

a dúvida do dia - II



.....


Bolas, esqueci-me.





a dúvida do dia - I


Não sei como é que há pessoas que ainda conseguem andar com o nome tão gasto. Por aí, como se nada fosse.

Será que ainda não repararam?


ingenuidade


E pensar que me meti nesta coisa para voltar das Berlengas com o mau tempo que estava.
Quando for grande quero voltar.
Já vos disse que não sei nadar?

8.9.05

quem quer afalfar as minhas almofadas?


Completamente armada contra o stress.

tirem-me deste dia

E deixem-me muda, quieta, a absorver o vosso burburinho inútil.
É que há dias em que está sol e cheira a brisa do mar. E dias em que chove e cheira a terra molhada. Gostava de conseguir variar os dias, e em todos eles encontrar cor. E com o breve anúncio da chuva achei a chave do dia de hoje. É que gosto do cheiro da terra quente molhada, mas percebi agora a certeza de que a chuva a bater no vidro me vai arrastar para um Outono terrível.

6.9.05


Farto-me de ir até ao horizonte e continuo sem encontrar um lugar.
Onde me sinta eu.

hoje,

...de blog em blog...


Sinto o limiar da vidaesfera.

simplicidades

Lá está. Presentes, passados, tempos outros. Do baú.


Houve um tempo em que o Sol brilhava. Houve um tempo em que era simples. Havia o que comer, havia o que fazer, onde estar. Havia quem guardasse a alma de outras pessoas. Houve um tempo em que alguém cuidava de mim. Entretanto, enquanto me distraía com o horizonte sorrateiro e o Por do Sol inadiado, a minha alma ficou só. E hoje já não é simples.E hoje já ninguém guarda a minha alma.
Guardo-me a mim própria.
Só não sei como.
Só isso.
Só.

tra la la


Se alguém alguma vez me vir a cantar baixinho no comboio, desengane-se.
Não é felicidade, é distracção.


4.9.05

a dupla negação



Não, ao domingo nunca está ninguém.

2.9.05

frequências interferentes



Acho que hoje descobri a minha frequência de reverberação*. É uma sensação estranha, de repente deixa de se ouvir a nossa própria voz e passa-se a sentir um som a encher os ouvidos e todas as cavidades do nosso corpo. E parece ser qualquer coisa parecida com o que dizem os físicos, o som sustenta-se a ele próprio, a energia gasta para o manter é mínima.
Pena não ter o tal de ouvido absoluto.
...Ou então era só o nariz entupido...
* - para quem não souber o que é....vá investigar!!!

alentejo


Enquanto o mundo adormecia, recordei o tempo em que sonhava recordar um passado. Recordei o tempo em que desejava um futuro que talvez nunca chegasse. Hoje, enquanto a noite se debruçava sobre o horizonte de cães vadios e chocalhos de ovelhas de planícies, hoje fiz esse futuro tornar-se passado. Os fantasmas com que sonhei um dia foram reais, e enquanto o foram deixei que povoassem a minha casa, o meu idílio. Mas já não há mais razão para eles existirem, porque o futuro nunca é bem o que prevemos que seja, e esses fantasmas ganharam uma vida diferente da que eu lhes quis dar. Por isso, a partir de hoje não serão mais fantasmas mas existências reais. Hoje deixarão de povoar o meu idílio, mas as suas existências serão convidadas a voltar quantas vezes quiserem à minha casa.
Desde que consiga sempre ver o mundo adormecer enquanto a noite se soerguer entre cães vadios e chocalhos de ovelhas de planícies.

lentes

Não me vejo como os outros.
Antes visse.

até que...


Ah, pronto. Sucesso.

a pergunta dúbia


Mas tens a certeza?...