30.8.12

até só




Saber que iremos onde quisermos. Ter a sorte de podermos ir. Fazermos o que quisermos. À hora que entendermos. Nem todos sabem que o podem fazer. Nem todos o conseguem.

Encontrar por acaso, uma livraria sobre a qual se tinha lido. Foi simples, o gato estava na montra a ver-me, e depois a lamber-se. No meio dos livros. Tal e qual como nas fotografias.

Saber que foi bom termos encontrado uma coincidência. Saber que teria sabido muito melhor partilhá-la com alguém.



o passado já chegou




E agora, que fazer? Que lhe fazer? Dar-lhe um estalo? Um abraço? Deixá-lo à porta? Dar-lhe um sermão, porque é aquilo que foi, mas que tantas vezes poderia não ter sido? Gritar com ele, para que páre de assombrar as casas de hoje? Dar-lhe um lugar à mesa, servi-lo, e ficar horas a conversar com ele, a ouvi-lo contar as suas histórias de sempre? Como um velho, que repete a sua vida, por não lhe sobrar mais que viver?


Para quê. Para quê dar-lhe de comer e parar para ouvir um bicho estranho. 






18.8.12

palavra repetida





Ele diz, a acordes tantos, que viu faíscas. Eu acho que não. Viu um brilho subtil, uma luz um pouco mais clara. Como se tudo estivesse na mesma. Mas lá no fundo há uma luz subtil, um brilho um pouco mais claro a espreitar.

Não viu uma faíscas.  Mas viu um brevíssimo momento, como se fosse. Diferente.







dizeres







Há expressões por aqui que são mesmo aquelas.

"a linha do tempo enrolada no meu pescoço".


E a correr, o tempo. A passar. A talvez, num dia, cingir um pouco mais. Um pouco mais justo. E a correr mais. O tempo aperta-me.

Porque os dias já não são assim tão grandes. O Verão despede-se.

O tempo da escuridão está a chegar.


E a linha enrolada, sempre da mesma maneira.






10.8.12

bronze





Até os pombos se deitam ao sol.




9.8.12

círculos






Volta, que não volta. Se tiveres regressado, não estarás de volta, que não és tu, o que vem do passado. Se voltares, não quero que regresses. Se regressares, não te conheço, que viraste alguém deste futuro presente.
Melhor então, não regresses. Não voltes. Não me revoltes.Que uma revolução, uma volta do meu caminho me leva ao encontro das tuas voltas, e revoltas, e regressos. E nesse ponto, nessa encruzilhada, tudo é escuro, confuso, difuso, suspenso.
Mas nessa tangente, nesse minúsculo ponto, tudo é luz, e quente e sereno.
Não há onde dar a volta. Não tem por onde continuar. Só espaço para voltar, e voltar, e voltar.

 E não sabes se circules, se voltes a circular. Em círculo, re-voltando.







7.8.12

curiosidade




mórbida.

Odeio.

A minha.

Fraca, fraca.

Aguenta-te.

E não perguntes (curiosidade!).





idades





Parece-me que a certa altura, não é o que tens ou fazes que é importante. É interiorizares em ti a serenidade dos dias, a paz de viver sem a expectativa de ter, de fazer ou do experimentar. E no entanto, fazer isso mesmo, ir tendo ir fazendo e ir experimentando. Porque tens sempre várias idades ao mesmo tempo.