23.1.13

fados






Como sair do fado que oiço? Da melancolia por Lisboa, do desgosto do sentimento, da pungência da guitarra. Da errância deste caminho.






partilha





Há um aniversário do qual me vou lembrar sempre. Na manhã desse dia, ninguém soube que estive perto de não chegar ao destino, que uma música quase me fez abandonar-me e despedaçar-me estrada fora.

Mentira, não foi uma música. 


A que por acaso, surgiu agora.






quase



Em pequenos momentos, discretos. Simples, curtos. Momentos escuros quietos num canto. Momentos obscuros. Em lugares inaudíveis. Quase, em pequenos momentos de sons. Electrónicos, acústicos. Acontece, quase, no meio de sons, palavras. 


Umas quase saudades. Uma quase nostalgia do vazio. Uma quase simpatia pelo medo.


Limites. Escolhas.

Quando parece ser mais confortável passar um limite. Quase-momentos.








20.1.13

flor



Não eram lírios, eram narcisos. Narcisos eram as flores que cortavas do vaso do quintal para levar, como lembrança de ti, aos outros. Todos longe, agora. Pergunto-me demasiadas vezes. 

Longe. 

Dúvida. 

Longe.


Não me digas, agora, que levarás mais narcisos. Não. Já não há ninguém para os oferecer. Vão crescer, criar um amarelo suave e bonito, abrir-se, até começarem a definhar. Amarelecer demais. Secar. Apodrecer. 


Não, não vou cortar narcisos para te oferecer.



18.1.13

pétala













Não sei o que diga.
Talvez, nada.

 





9.1.13

elogio. lanche





É que há momentos que valem indiscritivelmente a pena. Porque são saborosos os bolos, aconchegantes os chás e indispensáveis as amizades. Porque contêm dores de crescimento, como pés em sapatos novos e verdades que são ditas.




8.1.13

fuga




Era véspera de ano novo.
Havia família. Haviam amigos de família. Estavas numa casa que reconhecias, mas que vendo agora, não te era nem vagamente familiar. Tinhas estado na praia, sol, areia cavada pelas ondas  raivosas que volta e meia quase te submergiam. A espuma das ondas. Branca.


Sol, luminoso.


Tu vestias-te, como quem espera enfadonhamente por uma novidade. Talvez como costumas encarar as passagens de ano.

Havia pessoas a chegar a casa. Pessoas. Pessoas tuas.
Há um barulho ensurdecedor. Vais até à janela, assustas-te com um bando de pombos a voar à tua frente.
Há um barulho ensurdecedor.
Finalmente apercebes-te. Na paisagem habitual da tua janela, há um avião que se despenha na estação de comboio.

Pessoas, pessoas em todo o lado. Encostadas às paredes dos prédios, feridas.
Mesmo sabendo que tudo aquilo fora surreal, nada de grave, afinal nem havia nenhum comboio por ali na altura, passou um rés-vés, que nunca um avião daquele tamanho cairia assim em cima da linha do comboio, que conheces demasiado bem aquela estação, mas não aquela casa.

Mesmo assim, foges. Corres, corres por entre os feridos e pelas ruas que afinal reconheces como a tua casa. Corres com todas as tuas forças, como se não fosse preciso nenhum esforço. Corres, como se fosse o mais natural.




Eu sei para onde foges.







Acordo.




5.1.13

repetições





Passear mais. Mais sol, mais caminho. Raízes. Voltar mais vezes. Dizer que não mais vezes. E com mais maneiras. Arriscar mais que sim. Conversar. Voltar a ouvir uma coisa que não se ouvia há anos. Descobrir que os sons ainda moram intactos cá dentro. 




estar feliz

 
 
«Não acho que seja possível estar tudo bem e ser tudo bom ao mesmo tempo, e haver uma coisa plena, um estado completo.
 
Estar feliz é estar atento aos momentos e às coisas que nos fazem felizes. Às vezes, estar feliz é um subtileza que escapa à maior parte de nós. 

Mas ela está lá, algures. É estar atento. Mais.»