23.11.09

nhá

Liberta-me a mente.
Liberta a minha mente.
Libertá'nha men-n-te.
Uma rosa, pendurada, seca. Sim, aquela. Vai derramando os afectos, até formar um rio, que escorrendo, nos inunda de nós.
Não ser barragem de mim. Deixar-me nadar em ti. Flutuar pela corrente de nós. Com cuidado, proque eu não sei nadar, e qualquer precipitação me pode fazer afogar.
Não me afogues em ti.
Liberta.
Liberta-te.

18.11.09

mortos-vivos




Falamos como se já cá não estivessem. Não estão de facto, deambulam por um mundo desconhecido para nós, os deste lado da razão. Estão bem presentes, são, existem.

Ainda existem.

Em parte.


Porque há uma parte, qualquer, maior ou menor que o todo que ainda existe, que já partiu. Mudou-se de mundo, encontrou um lugar à sua medida. Reencontrou-se com o seu passado. Fugiram, pelo canto do olho, para outro lugar qualquer da imaginação. E por muito que quisessem continuar a existir mesmo ao nosso lado, aquele mundo irreal a espraiava-se à sua volta, numa sedução irresistível.


Acabamos a dizer coisas desfazadas do tempo. Contamos como era no passado, o que diziam, como faziam, do que gostavam e o que os fazia irritar.

Acabamos, no fundo, a recordá-los como mortos, mesmo que ainda vivam ao nosso lado.






série de



sei lá. Praia. Quase tempestade. Quase cinzento. Quase.

16.11.09

desconsolo

E se eu fosse dormir? Assim, acabava-se já com isto. Nada de cinzentos colados à pele, de chuva gordurenta de poluição, nada de andares apressados para escapar a ninguém sabe bem o quê. Acabava-se com esta sensação de Coisas Soturnas A Escorrer Lentamente. Acabava-se já com este dia, direitinho para o lixo, e preparava-me calma e serenamente para o próximo que decidisse cair-me em cima, num estrondo sem qualquer delicadeza, apesar do nervoso miudinho do despertador.
Dormindo.

6.11.09

janela

De repente, muitos minúsculos cristais atraíram o meu olhar para a janela. E era, afinal, chuva, e sol, e árvores, e aves, e estrelas, e o mundo a acontecer num momento.