25.2.12

eu não



O Sol Não Existe.


O tempo pára tudo. E há o regresso. Regresso ao que nunca existiu. Quem te irá apanhar as farpas aguçadas que lanças. Quem vai conseguir entrar na tua indiferença. Quem te vai fazer com que o tempo volte a correr, a fazer tudo correr.

Tenho tristeza por.



quase



As primeiras crias dos patos do jardim.
Os rebentos nas árvores.
As flores lá em casa.
As primeiras andorinhas a cruzar a janela.
O cheiro a calor.
Os dias a crescer.

Inevitável.
A Primavera está quase a rebentar.

E sim, é uma estação que explode, de repente.
Sempre.

É uma bofetada. De esperança. De positivismo.

Está quase.




22.2.12

verbalizar




Olhar de olhos fechados. Deixar o escuro instalar-se. Desligar os fones, as máquinas, a rua. Deixar o todo o barulho interior ouvir-se. Ficar. Olhar ainda mais para o escuro de dentro. Deixar de ouvir o teu ruído, as tuas pulsações. Calar por dentro. Tentar ouvir o silêncio de dentro. Não é fácil. É uma luta desigual, entre ti e ti mesmo.
Já ouves? Já vês?
É o que sentes, é o que fazes, é o que te leva.

E as dúvidas surgem, as falhas, os erros, as perguntas. Questionas-te?

Põe-te em causa. Pões-te em causa. E finalmente começas a aprender, lentamente, a lidar contigo mesmo. E descobres que cresceste.

E sobretudo, descobres que nunca nos conhecemos bem o suficiente.








21.2.12

série de







guinchos. Comuns. E gritos,
e vôos,
e liberdades,
e caças,
e mergulhos,
e tanto que não se vê. 




19.2.12

ter


Tenho

uma ruga na testa, das durezas e dificuldades. Dos dias que se perdem, maus. Daquelas que definem o nosso estado. E que, definindo, vêem-se sempre.

Tenho

cabelos a embranquecer. Que se escondem, como as mazelas e tristezas. Que se descobrem só quando se procuram, todos os dias, mais, novos, como as lágrimas. Todos os dias, novas.

Tenho

uma cicatriz no peito, de quando me tentaram concertar o coração. Sem grande sucesso. Continua com falhas, e buracos, e sopros, e descompassos, e bocados que faltam. Bocados que me tiram e bocados que desaprecem.

Tenho

uns pés que às vezes me doem de tanto andar.

A propósito, tenho que ir.
Andar para longe.




finalmente




casa, só.
só, casa.


Uma canção sobre valsas em compasso quaternário. És tu, que dizes o que não imaginas.
Que por vezes te sai pela boca o sol a brilhar e o verde bonito do mundo perfeito. Que logo a seguir sai escuro, longe e frio, e vazio e feio.


Não sabes, não imaginas, não dás conta do poder que tens.
É não quereres saber.




12.2.12

amigos para sempre








Não querer a companhia de outros, com medo de lhes ocupar o tempo.
Não ouvir a música, com medo de lhe tirar sentido.
Não escrever, com medo de não ter letras suficientes.

"E o deserto no mar da cidade".

Não cantar, com medo do regresso.
Não deixar de ouvir-te cantar, porque estamos todos presos neste presente.





série de







filtros e cinzentos.





série de







arco de estátuas de pedra.




8.2.12

até amanhã



É que há dias cheios de silêncio. Dias em que não há nada, nem ninguém. Dias em que apesar de tudo o que gira à tua volta, lá dentro de ti, nada. Silêncio.

Acordas em silêncio.
Caminhas em silêncio.
Escreves em silêncio.
Comes em silêncio.
Deitas-te em silêncio.


Assim como agora, neste dia que está para acabar. E eu deito-me com ele.
Em silêncio.








4.2.12

palavras




Todos os dias passava por uma série de palavras.
No vai-e-vem da rotina dos dias, havia sempre palavras a passar, mas aquelas, aquelas palavras.
Porque estariam ali?
Porquê aquelas palavras?
Quem?
Por vezes deixava-se levar. As palavras eram-lhe dirigidas. Significavam, talvez, aquilo de que já se teria apercebido. Significavam o que deveria dizer. Significavam que alguém já lhe tinha decifrado os pensamentos e adivinhado o que lhe escrever. Quase adivinha quem o podia ter feito.


Eram só palavras numa parede.
Frases.
Um trocadilho.


 A vida num trocadilho.





*da net.

2.2.12

por outro lado





Talvez deva mesmo trocar de telemóvel.





1.2.12

a tentação




A tentação de percorrermos os caminhos da nossa vida.
Sim, o perigo de de nos fazermos ao caminho.

Quando não o conhecemos.
Quando conhecemos esse caminho já demasiado bem.
Quando sabemos que ao lado há outros caminhos, mas escolhemos precisamente aquele, uma e outra, e outra vez.

É uma tentação ir por onde já fomos.
Mas talvez seja maior a tentação de trilhar os que ainda não conhecemos.