18.4.09

out of your world







Estava fora do meu mundo quando entrei no metro. Só quando me sentei em frente da rapariga percebi a música tão bela que rolava para dentro de mim.
O fim do amor.

E quando ele acontece na rua, é pior ainda, entramos de rompante no túnel e não vemos as centenas de pessoas que nos acompanham, e só queremos recompor-nos, limpar os olhos, e não fungar (nunca trazemos lenços), ajeitar as tranças desarrumadas, alisar a camisola amarela e que estação é esta final, que não interessa, que para onde eu queria ir já não existe.


you got me hidden right after you're gone.










dos dias correntes



A Primavera, caramba, é mesmo isto. Chega-se um dia ao Jardim e encontram-se as árvores de sempre floridas.
Muito floridas.
Mais do que verdes, as árvores da Primavera são coloridas.




14.4.09

dicionário de absurdos - 1

Papa : igual a vomitado, mas ao contrário.

12.4.09

dá para isto

Estas coisas são inexplicáveis. Mas dá-me para tentar (d)escrevê-las. ImpoSSível.
Mas,
havendo um som (este),
quem sabe, talvez o consiga.
Porque o oiço. O inexplicável está aqui mesmo, a entrar pelas orelhas dentro. E a mexer-se inexplicavelmente, e a operar em mim coisas inexplicantes que acredito transpôr em simultâneo aqui.
Impossível.
Inexplicável.
Meu.

part II b








Hoje, reconheço, só nós é que podíamos ouvir música assim.







Mas que par de jarras.

10.4.09

o que não existe|conto cinco



Quando for grande, não quero ser grande. Também não quero ser pequena. Nem tão pouco qualquer estado intermédio da constante metamorfose da nossa vida.


Bom.


Não quero ser grande demais. Não quero ser pequena demais. Não quero ser calma demais. Não quero ser agitada demais. Quero ser alegre, porque já fui um dia triste (um dia só...), e quero ter uma pitada de tristeza no meio da alegria. Não quero ser um caminho percorrido. Não quero ser caminho, sequer. Quero ser construção. Quero ser encontro.

Não quero, nunca, ser sem música.

Quero ser piano desafinado, que algúem encontra no meio das velharias cobertas por um pano de pó, madeira a ranger e som espaçado e trémulo a surgir, formando um sorriso.
Não importa o que quero ser, não importa o que não quero ser. Porque já sou, eu, agora.


9.4.09

o que não existe|conto quatro

Nas linhas da minha mão, escrevo desejos escondidos. Rascunho miragens ao luar, prendendo por entre os dedos os leves sons da brisa percorrendo a floresta.
Escrevo nas linhas da vida da palma da minha mão, os caminhos rumo ao mundo, a minha alma perfeitamente alinhada nos veios e sulcos da pele. E tantas vezes esquecidos os caminhos do mundo, os desejos escondidos, as miragens desaparecidas, a leve brisa do vento fugida dos meus dedos. Resto eu perante o mundo. E nesse mundo, tão vazio de tão extenso e grande, abro a mão, e deixo que os meus dedos percorram os acordes perfeitos das teclas da minha alma.

6.4.09

o que não existe|conto três

Será que existe, a acção dessentir? Como é que eu dessinto? Alguma vez dessentiram o sono, a alegria?
Será possível dessentir... e todavia, hoje sei com clara certeza, dessenti-te.
Sabes bem como vivias sobre a minha vida, pairando como uma sombra, sombra que eu tanto adorava e que me protegia de tantos outros sentires. Tanto me habituei a sentir a tua sombra que me esqueci que existias. E, depois, quando um dia te tornaste real, a propósito de uma qualquer insónia alcoólica, percebi que não eras tu que sentia meu, mas a tua sombra. Desiludi-me. As sombras são perfeitas.
Tu, não foste.
Aprendi a dessentir. Por vezes, dessenti-me, dessenti até o mundo.
E, por fim, dessenti-me de ti.