25.7.09

onde?


Onde está tudo?
Para onde foram os enredos, os contos, as escritas? Para onde foram as frases absurdas, as metáforas surreais? Onde as imagens grotescas, as descrições translúcidas da vida? Para onde, as fotos sobreexpostas, os risos narcísicos, as personagens decalcadas e os auto-retratos sofridos? Onde estão as narrações insensíveis do amor, as frases-chave dos dias iguais a si mesmos?
Foram de férias.
Eu também.










23.7.09

ver através

Tem que haver pessoas que mostrem o mundo inteiro com o seu olhar.
Serei eu capaz de ver o mundo através de ti?
E assim, quando te abraçasse, o mundo inteiro seria meu e caberia em mim. E tu terias em ti o infinito das coisas. E em mim, o teu olhar.

em rascunho


No meio de toda aquela multidão, dos tambores, distorções e vozes anónimas, perceberam que nunca tinham existido. Olharam-se e viram como, para cair no espaço de tudo entre os dois, ambos puxavam um muro de betão. Armado. E pré-esforçado, nos tempos mais duros. Entremeando gritos e pratos e vestidos grotescos, anuiram que tudo o que lhes tinha acontecido nunca servira para nada. As recordações não existiam, as lembranças eram auto-recomendações advertindo da possibilidade de repetição de todos os maus momentos acumulados. Da certeza de encontrar na memória todos os maus momentos acumulados.


Pratos, cordas. Pó. Lixo no chão. A glorious day, ouviu-se cantar.


Maus momentos. Pensou-se ouvir.

11.7.09

senso








Todas as pessoas gostam que falem com elas. Mesmo as que não ouvem ninguém.



Sobretudo, talvez, as que não falam com ninguém.






noite - parte V*

Como descrever.
Rabanada de vento.Empurrão.Queda.Movimento.Brusco.
Demasiado brusco para que se consiga perceber de onde veio, como aconteceu. Ver já tudo depois de ter acontecido, no passado. Atrás das costas. Mas por momentos, finíssimos nano-segundos, tudo se reegue e te atira ao chão. E ficas lá. No chão. Gemendo de dor e vendo as estrelas cadentes no céu. Sem conseguires levantar, e sem quereres, porque sentes no chão um confortável calor de terra.
E aí, no resto da eternidade do tempo, como fazer para chegar até ao depois?
*banda sonora do filme Alice. e deste texto.

8.7.09

dos dias úteis

Num qualquer dia, daqueles fins de tarde em que espero pelo metro (metropolitano, dirias), no Rato, oiço aquela voz meio simpática, meio artifical, que volta e meia parece que tem saudades nossas, dizendo:

"Take care of your belongings. Pay special atention to your heart and wisdom."

3.7.09

da linha |




Queria não ter que respirar.

Se há dias em que existir seria já suficiente.






1.7.09

damn you




Mexer o tacho. Esperar que levante fervura. Enquanto as bolhas de azeite rodopiam, gordurosas, e se colam umas às outras, pensar em nada. No nada que és. Bolhas a vaguear no meio da sopa. Como se cada uma pudesse ter sido uma realidade diferente. E no fim, é esta na qual te aprisionaste.
Tontice.
Pensar que a vida são bolhas de azeite. Realidades criadas, isso são coisas do fundo, lá de baixo. Densas, raramente se deixam vir ao de cima, e se lhes notamos o trago é porque mexemos a colher bem lá no fundo. Remexemos o fundo do tacho.
O trago do fundo de nós.