28.10.10

até amanhã






Dançar com um amigo, se fosse possível.

Dois pares de sapatos.


Só.





(tal como canta o outro).






26.10.10

barco de papel



Sabem aquela sensação de deixar ir, deixar correr? De quando largam um barco de papel no riacho, e ele balança um pouco perto da vossa mão e parece até desorientado com as pequenas ondulações... até encontrar uma corrente que o leve, até começar a navegar, decidido, para longe?


Ando com essa sensação dentro de mim.


E é um ficar na margem, a ver, a ver... até lá ao fundo. E ficar mais um pouco, mesmo tendo deixado o barco ir.

25.10.10

série de












em carreira diária.


22.10.10

difuso


Olhando para trás (como quem poderia dizer para diante), não consigo deixar de confundir algumas manifestações de precupação com curiosidades doentio-mórbidas.

Estamos sempre tão preocupados com o mal dos outros, não é?

preciso de falar contigo



"entre aspas".

A verdade é que isto nunca (me) acontece.

15.10.10

outono




A entrada do Outono na minha vida é uma confusão de sol cada vez mais distante, cobertores puxados para cima em arrepios de frio ou atirados para trás em suores de calor, casacos a mais e a menos, molhas e escaldões no nariz, onde a parte mais certa é aquela em que

a fome deixa de ser refrescada com coisas como sumos, batidos, saladas e frutas (vá, e imperiais em esplanadas) e
passa a ser abafada com coisas doces como salames, tartes, bolos e chocolates (vá, e copos não tirados do congelador dentro dos bares).

Só me apetece comer bolos.
É outono.

4.10.10












Sentei-me no banco de pedra e reparei. Lá mais à frente, junto à escarpa, uma rapariga sentada. Sinto que os nossos propósitos seriam os mesmos, mas com toda a certeza, por trajectos diferentes.
Aposto que a rapariga não pensava em nada. Parecia apenas contemplar etereamente o pôr do sol no mar. Revejo-a a observar a paisagem por pedaços.
O grande mar azul.
Ali, na ponta do sal, as ondas, baixas, prolongam-se por centenas e centenas de metros. Sincopadas, rítmicas, certeiras contra as escarpas.
Depois, os mosquitos.
Seguindo o vôo despropositado de um, acabou por perdê-lo numa pequena nuvem de mosquitos. Como quando três ou quatro se convergem, numa vertigem, formando um pequeno caos Um caos do tamanho de um mosquito.
As gaivotas.
Pressentindo o fim do dia, vão aparecendo junto à costa. Regressam, rasando o mar, a casa firme.
As nuvens de noroeste engrossam, obrigadas a contornar a serra.
O sol prolonga-se no seu regresso ao horizonte, como se quisesse manter um pouco mais a sua vigília. Mas afasta-se e o seu calor enfraquece.
As cores afundam-se com o sol. Regressam também elas ao seu interior, e o seu brilho desaparece. Tornam-se semelhantes, identicamente pardas.

Viro costas.

Ela fica, ainda, quem sabe na esperança de conseguir agarrar ainda uma última ponta desse dia.



3.10.10







E quando te apercebes dessa sensação latente?
Quando percebes que não percebes, que não há como perceber?
De repente tudo é claro, e de súbito é claro que não pertences ali. Que afinal nem sabes onde devias estar. De repente, nenhum lugar te serve, porque sentes coisa nenhuma. Não és de lado nenhum. Apercebes-te que há coisas, como as tuas raízes, que nunca existiram, que o que te prende és tu mesmo. A tua casa não é mais que uma morada. Não te sentes daqui, nem de lá. Como raio é que foste aqui parar?
E, no entanto, há uma torrente que sai do teu peito, clamando por uma fonte.
Exigindo uma origem.
E procurando um fim.









saberá




E perguntavas tu, porque não apareciam aqui mais palavras, ou qualquer coisa assim.
Não sabia que responder, porque não tinha com que responder.

Só que a verdade, a verdade, acho que pode ser esta:
escrever para ninguém é diferente que saber que alguém virá. Alguém lerá. E alguém tentará, sempre, interpretar o que se escreve. Alguém achará que percebe, que sabe.

Não sabe.