28.2.07

a molhar os tolos


Hoje o céu acordou mais branco. Para onde quer que olhes, branco. Aquilo que querias ver, branco. Ouvindo, ao longe, branco. Branco a escorrer do nariz, branco a pingar das mangas. Poças de branco.

E as árvores, as encostas, brancas.

Tudo me submergiu. Em branco.



25.2.07

coisas como ir lavar o carro no domingo à tarde

Lembro-me do que disse mas perdi a memória de o ter dito.
Atrás da porta, pilhas de livros. Ilhas de capítulos. Montes de palavras por digerir, para que me leia nas descrições atraiçoadas dos mundos. O supremo cansaço confinado no meu fundo, que sempre se transborda, sorrateiramente.
Como nos restos de noite em que paira atrás de um beco escondido um resto de música decadente, em assobio trémulo. Em ausência, já. Ouve-se um assobio que já não existe, aqui ao lado, ainda.
E canso-me. Canso-me de me cansar, canso-me porque me faço cansar, porque decido cansar-me. É decidir-me por ele, e não o cansaço, que magoa.

23.2.07

Christmas crackers (dois)


Why don't ducks tell jokes when they're flying?








Because they would quack up.

22.2.07

p'ra lá do longe XX

Porque as terras estão carregadas de água,
e as escritas têm andado por outras paragens.

21.2.07

p'ra lá do longe XIX

Por mero acaso.

12.2.07

Completa-me.

11.2.07

Incompleto-me.

é isso.

.

.

.

Faço minhas as palavras dos outros.

.

.

8.2.07

com o patrocínio do cartão de eleitor e seu desconto de munícipe



7.2.07

o homem-aranha

Alguém andava por cá, a brincar com as suas próprias ideias. Tecendo teias. Com as reais, juntando as surreais e envolvendo-se em surreais. Foi tecendo, como uma aranha que todos os dias reconstrói a sua teia. Tornou-se numa obsessão. As ideias já não o eram. Eram como que fantasmas devoradores de matéria, mas da sua própria matéria. E a teia que tecera era, afinal, uma armadilha para si mesmo. Era quente, confortável, mas impossível de romper. E ia, dia após dia, sendo digerido. Ia, ideia, após ideia, sendo anestesiado e devorado por si mesmo.
Final? Não se sabe. Sabe-se apenas que lhe era impossível viver sem pensar. Pensar o quê?
O que qualquer um pensa por aqui.

6.2.07

capital


Lisboa é isto.


E um pouco mais.

capital

Lisboa também é isto. E é ainda um bocadinho mais.

capital

Isto ainda é parte de Lisboa.

Mas há mais, há sempre mais.
Há tanto ainda que não se sabe. Uma qualquer constante mutação, que

e

.

Não me sei ainda descrever.

4.2.07

café da tarde






De repente, todas as cadeiras ficaram vazias. Todos se levantaram e foram admirar, fotografar, desdenhar, o Sol. A afundar-se no fim do mar.
Que mais poderíamos ter feito?




2.2.07

café da manhã

Pois, meter a chuva (não sei porque é que escrevi "chuva", quando o que eu queria escrever era)
Pois, meter a vassoura no assento da cadeira para a limpar, tal como se varre o resto do chão do café. E depois, pára um comboio mesmo por cima das nossas cabeças. A chávena de café estremece um pouco mais e o comboio parte com destino a Coina.
'Tá aqui uma mulher a mandar vir como Frodo, o Sam e as suas indecisões de mais de três horas e meia como se não houvesse amanhã. Será que o gajo que a está a ouvir gosta assim tanto dela? Credo, santa paciência. As DocMartens e as luvas pretas sem dedos não convencem ninguém. A mim, pelo menos. Vá lá, parece que gosta de filmes de Charles Chaplin. Curiosamente, nunca vi nenhum (qual cultura qual quê). Mas acho que se visse, também era capaz de gostar. Não tenho ido ao cinema, ultimamente.
De vez em quando, as notícias de futebol do costume vão-se sobrepondo ao vozeirão da outra.

anoitecer