fotografias
Há imagens que presenciamos, que se fazem e são presentes. Que, por si só, são momentos que preenchem. São espaços, cores, sombras e luzes que não conseguiremos nunca fixar, de tão vivas, em memórias digitais, analógicas, ou, pessoais.
Quando essas imagens surgem, e temos oportunidade de as presenciar, só nos resta ficar, contemplar e, por momentos, ter a sensação de que fazemos parte daqueles pós de luz. E acreditar que ainda não será esse o último momento.
céu
Olhar, só.
Noite, escuro. Os sons do silêncio. Abrir os olhos e deixar que a cegueira passe, que a pouco e pouco mais poeiras de luz invadam o olhar. Deixar que seja a luz a entrar por nós dentro. Começar a ouvir melhor, a ver melhor, a vida em redor. Abrir os olhos, só. Infinitas poeiras pelos olhos dentro.
Contemplar cada vez mais luz, a noite cada vez mais escura. O sentir, mais profundo.
partilha
"Quais
são as tuas palavras essenciais? As que restam depois de toda a tua
agitação e projectos e realizações. As que esperam que tudo em si se
cale para elas se ouvirem. As que talvez ignores por nunca as teres
pensado. As que podem sobreviver quando o grande silêncio se avizinha".
Vergílio Ferreira
Acho que gostava de ter sabido escrever isto, assim. Mas às vezes o melhor
mesmo é tomar para nós as palavras dos outros, já que as nossas podem
ainda nem ter sido pensadas. E de repente, ao ler as de outros, emerge
qualquer coisa cá do fundo, que nem sabiamos que existia-nem palavras,
nem fundos.
Ainda sem saber responder.
Mas crer que existem.
Estão por aqui.
de vez em quando
pegavas nela e levavam-se ao cinema, a beber, a ver o mar. Todas as pessoas a passar, e era normal. Cinema francês não, um vinho do Porto já pode ser, aquele mar do sul, tão brilhante. E ninguém reparava. Como se fosse normal as mesmas 150 pessoas escolherem o mesmo filme. O mesmo vinho. O mesmo mar. Pegavas nela e as coisas passavam por vocês. Faziam-las passar por vocês. Disfarçá-las de vós mesmos.
E, no entanto, todos eram assim. Não fazias ideia do que era aquilo. Não sabias, não percebias que era a posse. Dela.
«O "meu" do amor é sempre entrega. És minha porque tens o meu coração em ti, não
o contrário.»