22.12.15

chi-coiso

E então conta-me,
conta-me como se tornam concretos
o canto dos pássaros
o sol à espreita
o mundo a rolar por baixo dos teus pedais.

Como se transforma
o canto
o sol
o mundo

em ti, no teu olhar e na tua transformação. 
O que é o menos, fazê-lo o mais.

E será que 
os pássaros
o que espreita
dos pedais
chegam?, são suficientes para transformar?

Como guardar e sempre ter à mão
o canto dos pássaros
o sol à espreita
o mundo a rolar debaixo dos teus pedais.

Ter a palma da mão o tamanho suficiente para lá guardar, e mostrar, os detalhes que mudam os teus dias.

13.5.15








Às vezes, gostava mesmo de saber o que pensas. Ler-te o pensamento, olhar-te e responder-te ao que não chegas sequer a dizer.
Outras vezes, não quero saber. Ou, melhor, saber só o que hei-de pensar. E olhar-te, e esperar que respondas sem eu ter que pensar sequer.


19.4.15

capuchar




As i drive.

O nevoeiro passa por entre os ramos, fino, mil gotículas que se dissolvem voando. Tento olhar, tento ver. Que pensará o nevoeiro a desfazer-se em gotas de chuva escorrendo por entre cabelos. Tento perscrutar-te. Em vão. Dissolves-te no ar, antes que te conheça. Envolves, fazes tuas as acácias, choves, arrefeces, partes. Through my throat. Que levará o nevoeiro consigo. Que cores trarão consigo as mil gotas de vazia luz.















27.3.15

dilema escrito




não quero escrever
não quero escrever
não quero escrever
não quero escrever
não quero escrever

não quero escrever
não quero escrever

não quero escrever

não quero escrever


não quero escrev
não quero escr

não quero e
não quer
não q
não
não






19.3.15

onde te bate o sol nesta manhã?








Bate na janela do sítio a que cada vez mais chamo minha casa. Bate na janela do autocarro, como que para lembrar que ainda há qualquer lado importante para onde ir, hoje. Bate-me em cheio na cara, ao sair de casa, como quem leva um estalo na cara para acordar. E perceber que se está um dia de Sol, então... este ainda é um 
Belo 
Dia 
de 
Sol.





8.3.15

A primavera já cá anda. Em tudo.


5.3.15

culinária*

Há mais receitas para além da massa de atum.
Mas é mesmo o que me apetece hoje.**

* ou a comida como eterna metáfora da vida.

** é verdade, eu não parei de comer. Só de escrever.

4.7.14

sorrisos de inverno




sorrir.

As pessoas deviam sorrir mais. deixar descontrair os ombros e sorrir um pouco. Gosto de ver os sorrisos nos outros. Ficas tão bonito quando sorris, de manhã, cabeça ainda sonolenta na almofada.

O cinzento das nuvens de inverno rouba-me quase todos os sorrisos, mas não me posso deixar enganar, afinal de contas os dias estão a crescer, e o céu azul há-de prevalecer. E eu voltarei a sorrir mais.

Sorrir melhor.
Com simplicidade.






3.7.14

série de






caminhos. Lineares, rumo directo ao destino. Desconhecido. Mas presente, mesmo em frente.

só um esforço





as tardes que deixaram de ser tardes.
Os jardins mais longe, menos doces, as cores menos quentes.
Abriu-se no caminho uma corrente, uma brisa. 

O verão caminha, pendurado na órbita da terra, para longe. Lentamente. Sem darmos por ele.




4.5.14

maio







Há dias em que damos por nós com saudades. Em que pensamos que tudo foi cedo demais, que havia mais por conhecer, por viajar. Havia mais por dizer. Havia mais por reconhecer. 
Há dias em que dou por mim com vontade de mostrar a quem já não tenho, o que já consegui viver. O que já conheci, que já mudei, quem já amei.

Dias em que damos conta das rotinas que vão mudando, ao sabor das pessoas que temos nas nossas vidas.




5.1.14

série de






coisas do outro lado do mundo. 
E de mim.




domingo


Olha, pingos vermelho-sangue à tua frente. Cor escura, quente, melosa.

Olho-os, não sei o que vejo. Só vejo barulho. Queria tanto ver silêncio. Vê-lo, balançar-se, suave, à minha frente. Não sei bem o que vejo, não tenho a certeza do que quero ouvir.

Balançar, com a brisa, só. Deixar os pesos escondidos por baixo das folhas de outono, como os esquilos e as bolotas. E ao subir da primavera, ter-me esquecido de onde os escondi.

Vermelho-sangue.

Comi uma romã, e o escuro e quente e meloso ficaram espalhados, em pingos, à minha frente.





23.12.13

clássicos




Ouve comigo.
Partilha a música. Vive o que vivo em mim. Ouve, repara. As notas, as dinâmicas. Vibra. 
Os graves. Fortes, ligaduras, pedal.
Ouve comigo o som dos martelos por detrás das notas.

Repara nos detalhes. No meio da imensidão do que se move na música.






13.12.13

Só para.
Acrescentar verbo.
Respirar.
Sentir.
Dançar.
Dizer.
Acrescentar complemento.
que te...
expressões.
calor.
só uma estima.
profundamente.

Parece, parece.
Não é, se não se ouve.
Não existe.
O meu mundo não existe, se não o povoar de palavras.
Como?
Respirar, sentir, dançar, dizer - sem palavras?
Só para isto.
Para sobreviver.

Todos temos um mundo que não existe dentro de nós. Uns povoam-no. Outros escondem-no. Outros, deixam-se assombrar.

6.11.13

place to be






o sítio para ser.
Espaço onde estar.
local, lugar.
Põe-te, posiciona-te.
Ser, onde estás.
O que és?
Estás onde queres ser?

É raro responder
sou onde quero estar.

Por isso, irremediavelmente,
caminho.

Caminhos, caminhos,
em busca, à espreita.
de onde estou para ser,
do que sou para estar.

Place to be.

20.10.13

baixinho













 





Quando no meio da multidão, há palavras imperceptíveis.
Quando, no silêncio das tuas paredes, sentes palavras, sussurros atrás de ti. Tão baixos que ninguém os poderia compreender.

Não te apoquentes, não te desiludas: quanto mais baixinho, mais sussurrado, quanto menos palavras, mais perto do coração. Tão perto, que um só murmúrio preencheria todo o mundo, para ti.