Sempre gostou de conduzir, porém não especialmente. Mas conduzir de noite, por estradas mal iluminadas (ou mal frequentadas) sempre lhe exercera um fascínio, uma atracção fantástica que não podia controlar. Era no fim das noites, quando regressava a casa, só de si mesma, que as estradas mais curvas a atraíam, era nesses momentos de abandono de si que sentia que podia, se quisesse, fazer cumprir o seu destino. Um destino previsto com toda a nitidez e pormenor.
Era entre essas curvas percorridas no volume máximo que ela sabia que o seu fim iria passar por ali.
Quando batesse. Quando se espetasse. E quando se espatifasse, dentro daquele carro. E ao som daquela música.
Porque era ela que o guiava, talvez como nunca tivesse conseguido guiar a sua vida.
(engraçado, quem diria que o "fim" "passa" por algum lado)