tudo começou há uns meses atrás, quando num destes momentos de desocupação resolvi escrever uma carta...
"Querida Joana (nome irritante que quase todas as pessoas especiais da minha vida conseguem o dom de ter...):
Não sei como começar isto (embora tenha havido um tempo em que gostava de escrever cartas) por isso o melhor é ir directa ao assunto.
Não sei (de novo...) o que aconteceu, não consigo encontrar causas para uma amizade que adormece (ou desaparece). Queria não questionar isso, mas acreditar que às vezes as pessoas simplesmente desaparecem... é difícil. Porque há pessoas e pessoas, as pessoas que saem do comboio em qualquer estação desaparecem em três tempos e ninguém questiona isso... todos temos a nossa vida. Mas depois há pessoas que um dia chegam, instalam-se em nós, vivem connosco... e desaparecem. E às vezes custa um bocadinho. Especialmente se forem pessoas que talvez nunca tenham percebido a importância que tiveram, a quem se calhar talvez devêssemos ter dito alguma coisa que nunca chegaram a ouvir... mesmo que desaparecesses depois, era importante para mim, e se calhar mais ainda para ti, saberes que eu estive lá para ti, para as tuas alegrias e para as tuas mágoas. Era importante para ti saberes que me ensinaste muito, não porque o quisesses fazer, mas porque aprendemos sempre com os nossos amigos. Aprendi muito do que estava escondido em mim até então, aprendi muito sobre os outros que me rodeiam, afinal eu era muito mais igual a eles do que julgava. Já não sei com certeza o que pensavas de mim (gostavas de mim, eu sei, mas sempre fiz bem o papel de irmã mais nova que dá vontade de levar para casa) e lembro-me de por vezes ter medo do que achava de ti porque sempre tive medo de me acorrentar às pessoas especiais. De deitar fora a chave do cadeado que prende a corrente. Ainda tenho. E no entanto é o que está sempre a acontecer. Aconteceu contigo. Acorrentei-me a ti, vivi muito contigo ao meu lado, mesmo quando já estavas a desaparecer. A corrente ficou ferrugenta, foi-se partindo. Mas ainda encontro pedacinhos dela por aí. Por vezes (como agora) gostava de a reconstituir. Será que ia ter a mesma força de antes? Será que valeria a pena... Não te quero incomodar. Tens a tua vida, eu também já tenho a minha. Mas quero dizer (e ficaria muito feliz se ouvisses) que houve uma altura em que eras muito importante. Pelo menos para mim. Quando andavas triste eu andava triste contigo. Sei que não fui eu quem te ajudou a ser feliz de novo. Desculpa. Mas nunca deixei de te ter comigo, e de cuidar dos pedacinhos de ti que ias deixando comigo. Pedaços de flores, pedaços de papel. Por aí, comigo. Talvez nunca te tenha dado a amizade que precisavas. Mas, entendes, estava demasiado ocupada a aprender contigo. Essa coisa da amizade. Por isso é que se hoje tivéssemos a mesma corrente acho que te teria dado mais do que dei. Parece, até, que me esqueci dos momentos puros que passámos. De felicidade. Franca. Mas não te quero incomodar mais. A sério. A menos que queiras.
As amizades verdadeiras podem acontecer, mas precisam sempre de uma manutenção... Foi isso que faltou na nossa corrente? Mas agora a sério, só gostava que fosses feliz. Tu mereces. És boa. Ainda que a tua bondade se tenha escondido juntamente contigo, eu sei que és.
Pronto. Acho que era isto que te faltava dizer. Talvez ainda não tenha dito tudo...talvez nunca venha a conseguir. Mas hoje já é um começo. :)"